quinta-feira, 5 de maio de 2016

Resenha: A hora da estrela

                                        

“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.” A genialidade da última obra de Clarice Lispector já se acentua nas primeiras linhas do livro. A linguagem narrativa, intensamente lírica, é carregada de metáforas, paradoxos e ironias.

O livro é narrado por Rodrigo S.M., que se mostra tão protagonista quanto a personagem central da história. A escolha estratégica de um alter ego masculino para transmitir uma narrativa mais agressiva e fria caracterizaria uma crítica intrínseca da autora em relação à condição da mulher na sociedade, vista normalmente como um ser frágil.

É a partir desses estereótipos que é construída a personagem principal, Macabéa. Nordestina, órfã e alienada. A personagem de 19 anos é tão ingênua ao ponto de não perceber a própria infelicidade. A inconsciência de Macabéa, transmitida pelo autor, explanaria a ótica masculina sobre a mulher contemporânea da época. Macabéa pode ser uma alusão aos macabeus bíblicos, sete ao todo, teimosos, criaturas destemidas demais no enfrentamento do mundo.

Apenas com a morte, Maca, alcança a consciência. Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: “ Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida” Há uma situação paradoxal: ela só nasce, na hora de sua morte. É na morte que a personagem encontra a sua “Hora da Estrela ou A culpa é minha ou A Hora da Estrela ou Ela que se arranje ou O direito ao grito quanto ao futuro ou Lamento de um blue ou Ele não sabe gritar ou Uma sensação de perda ou Assovio no vento escuro ou Não posso fazer nada ou Registro dos fatos antecedentes ou História lacrimogênica de cordel ou Saída discreta pela porta dos fundos".

Música para ouvir enquanto lê o livro:


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